quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

AUTOPREFÁCIO

Naturaleza Sangre Sem Identidade

Para Roland Barthes

Queria escrever essa coisa aqui com a força de um pincel de Goya. Mas sei da precariedade de minha escrita. Repito que o único tom possível é minha naturaleza sangre, escorrendo por entre os dedos.
Respiro.
Após o sangramento vou recolhendo partes possivelmente narráveis, construindo enredos sem histórias, armando falácias que cercam meu desejo de continuar.
Respiro fundo.
A inventividade no zero grau de escritas me comoveu com esperança. Digito este relato ausente de estilo, não como provocação aos costumes, mas para denunciar a prisão da escrita dos pós-isso-ou-aquilo, que me tirou o chão.
Espero.
Não quero ser lido daqui cinqüenta anos. Só escrevo porque é a melhor forma de me comunicar. Forma que se suspende, diante do olhar, como um objeto. De qualquer forma, solidão, atado no interior vazio.
Sei que também há vaidade, não nego.
O grito pode denunciar a loucura dos dementes, mas a escrita como um grito pode chegar ao leitor como disfarce, simulacro de efeito estético agora mais comunicável.
Ratifico.
Preciso encontrar você, estilo dos infernos que denuncia meu mau humor, hálito do nunca saber o que vejo em mim.
Sempre quis ser isso mesmo. Depois do grito, o pincel, a imagem: uma escrita ausente de mim. Agora impossível.

DANILO MACHADO

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